quinta-feira, 23 de abril de 2009

Metodologias na Pesquisa de Campo

A metodologia aplicada à obtenção de dados etnográficos e etnobiológicos é ou deveria ser um aspecto bem definido no treinamento do antropólogo. Obviamente, para qualquer pessoa interessada em etnobiologia, o ideal seria conhecer a teoria antropológica e biológica e os métodos de pesquisa de campo. Para os que desejam realizar pesquisas em etnobiologia, mas que possuem pouco ou nenhum treinamento na matéria. Apresento abaixo a lgumas sugestões apontadas dentro da obra de Posey.
O maior problema com que se defronta qualquer investigador - inclusive antropólogos experimentados - ao lidar com outras culturas; é impor, inadvertidamente, suas próprias idéias e categorias culturais a seus informantes ou consultores culturais. Formas não-verbais de comunicação – tais como reações de descrença ou reprovação – prejudicam ou limitam a aquisição de dados por parte do pesquisador. É essencial estabelecer o tom necessário a um relacionamento compartilhado entre iguais, ao invés de uma doação de informações a um índio, tido como menos dotados intelectualmente. Este é o maior pecado de um verdadeiro cientista.
Questionar, pura e simplesmente, conduz à inibição do fluxo de informações por parte do informante. De um modo geral, quanto mais aberta a pergunta, isto é, menos restritiva, maior é a liberdade deixada ao informante para responder segundo sua própria lógica e conceitos, pois, quanto menos perguntas, melhor é. Recomenda-se, por isso, uma metodologia geradora de dados na medida em que o informante propõe tópicos e explicações correm-se menos riscos de prejudicar a informação.
Quando se utiliza o método do questionamento, deve-se começar por mostrar um objeto e dizer simplesmente: “fale-me sobre isso”. Formulada dessa maneira, a pergunta evita o uso de um nome para uma categoria de objetos que podem ou não ter nomenclaturas tribais. “o que pode me dizer sobre arbustos” seria uma pergunta simplista, porque presume uma categoria de planta de nível intermediário, que não possui designação própria em muitas línguas.
Para obter e completar dados, o pesquisador pode selecionar palavras empregadas pelo informante, a partir das respostas iniciais. Quando o pesquisador impõe ou introduz conceitos não obtidos, não pode estar seguro de que as repostas exprimem a realidade da cultura em questão, ou simplesmente o desejo do informante agradar seu hóspede. Assim sendo, deve-se evitar todo o esforço para formular perguntas despidas o mais possível de conceitos etnocêntricos.
Uma das grandes desvantagens dos pesquisadores de campo é que já trazem suas hipóteses de pesquisa totalmente formuladas. Muitos dados podem ser obtidos nestas condições, mas estas questões preconcebidas raramente refletem a lógica e a realidade internas de uma cultura, a não ser a própria. É perfeitamente aceitável, evidentemente, ir ao campo com a intenção de coletar plantas. Se ao fazer a coleta o pesquisador descobre que existe uma categoria de planta medicinal na cultura em questão, nesse caso – e só em função disso – pode dispor-se a estudar esse tipo de planta. Ao surgir, dentro da categoria de plantas medicinais, a variedade plantas anticoncepcionais, é legítimo que o pesquisador se entregue a seu estudo. Caso plantas de fertilidade sejam co-denominadas pelos índios como anticoncepcionais, é lícito que o pesquisador postule uma categoria de “plantas relacionadas à fertilidade sexual humana”. Não é cabível fazê-lo, no entanto, se esta ligação não for explicitamente formulada pelos informantes. A ausência desse vínculo, ou sua negação por parte do informante, não invalida o fato de estarem as duas categorias relacionadas em nossa lógica científica. Os índios podem ligar fertilidade com anticoncepção a várias outras condições humanas, alargando, desse modo, a visão do pesquisador para as propriedades inter-relacionadas da fisiologia humana e para as propriedades medicinais de certas plantas. É essencial confiar nos informantes para que estes conduzam o pesquisador ao longo das trilhas da investigação deles.

Referência:
POSEY, Darrel A."Etnobiologia: Teoria e pratica". In: Suma Etnologia Brasileira. Berta G. Ribeiro (coord.. Edit. Universitária-UFPA. Belém.1997. p. 1-15.

Resumo postado por:
Cláudio rogério
Bolsista do Núcleo NAVIS
DAN
UFRN
claudiopotiguarrn7@hotmail.com

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